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Trabalhadores Exilados – um resgate histórico na França

Por Auris Sousa | 18 abr 2016

Um verdadeiro resgate histórico, uma obra que merece respeito e muitos estudos.

A franco-brasileira da gema, originária do Mato Grosso do Sul, Mazé Torquato Chotil, produziu uma excelente pesquisa sobre os trabalhadores brasileiros exilados na França nos “anos de chumbo” da última ditadura militar brasileira. A obra “Trabalhadores exilados: a saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985)” é um resgate e recuperação da história de muitos trabalhadores brasileiros que foram forçados a partir do Brasil para o exílio na França. O estudo não foca nos já tradicionais documentos sobre artistas, intelectuais e estudantes, mas sim em operários que de alguma forma não tiveram o devido registro histórico de suas vidas na ditadura militar de 64, tampouco em seus anos de exílio.

A obra é rica em documentos e depoimentos dos exilados, além de uma linguagem direta que demonstra pleno conhecimento dos tristes destinos de cada operário. É importante destacar, pelos registros feitos por Mazé Torquato Chotil, que mesmo na tristeza do exílio, muitos operários conseguiram um resgate de vida para um crescimento pessoal e coletivo, além de escreverem novas histórias em suas vidas.

O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com a jornalista Mazé Torquato Chotil em Paris. E a partir do dia 25 de abril, Mazé estará no Brasil para uma série de eventos de lançamento da obra no país.

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O livro, que já foi lançado em francês, agora será lançado no Brasil pela Editora Prismas.

Mazé Torquato Chotil é jornalista, doutora em ciências da informação e comunicação, realizou este trabalho de pesquisa pós-doutoral em ciências sociais na EHESS – École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris, onde reside. O trabalho tem como orientador de estudos o renomado antropólogo e professor, Afrânio Garcia Júnior, que é mestre de conferências na EHESS e pesquisador do CESSP. Mazé também promove todos os meses o “Café Literário” em Paris noInstituto Cultural Alter Brasilis.

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Além deste lançamento, Mazé Torquato Chotil é autora de outras obras que resgatam importantes histórias de sua vida, da sua família e de brasileiros em Paris. Podemos destacar, “Minha aventura na colonização do oeste” (2014), “Lembranças do sítio” (2012) e “Minha Paris brasileira – um guia turístico ao gosto verde-amarelo na cidade-luz” (2010), ambas as obras publicadas pela Editora ADC de São Paulo.

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Serviço: http://editoraprismas.com.br/produto/7814670/PRE-VENDA-Trabalhadores-Exilados-A-saga-de-brasileiros-forcados-a-partir-1964-1985

Lançamentos:

  • 25/04 – 19hs – No espaço da Rosa Latino Americana juntamente com o show de canções francesas de Bernard Chotil e Jeff Mignot – Rua Abolição, 244 – Bixiga, em São Paulo – SP.
  • 27/04 – 18hs – Na Casa do Poeta Lampião de Gás juntamente com o show de canções francesas de Bernard Chotil e Jeff Mignot – Rua Álvares Machado, 22 – Liberdade, em São Paulo – SP (Sede da Associação Paulista de Imprensa)
  • 28/04 – 18hs – No Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, com a participação do jornalista Audálio Dantas, do sociólogo Marcelo Ridenti e do ex-exilado Luis Cardoso, o Luisão.
  • 02/05 – 19hs – Auditório II da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados.
  • 04/05 – 19hs – Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco com a participação do IIEP – Rua Erasmo Braga, 307 – Presidente Altino, em Osasco – SP.

Entrevista:

Brasil no Mundo: O que te motivou a produzir o estudo e livro “Trabalhadores exilados: a saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985)”?

Mazé Torquato Chotil: Há mais de 30 anos vivendo em Paris, sempre em contato com o Brasil, após meu doutorado sobre o uso da informação pelas PME brasileiras, quis aproveitar meus pés no Brasil e na França para pesquisar um tema que fosse importante para a história dos dois países. Na procura, constatei que a Central Sindical Francesa (CFDT), ajudou um grupo de brasileiros sindicalistas durante seus exílios na França, do qual fazia parte José Ibrahim, afastado do sindicato dos metalúrgicos de Osasco pelo governo militar durante a greve de 1968, em plena ditadura. A CFDT ajudou o grupo que ficou conhecido como GAOS – Grupo de apoio à oposição sindical no Brasil. Por outro lado, a maioria dos exilados brasileiros da época era formada por estudantes e intelectuais, e eu quis, então, saber mais sobre o exilio de trabalhadores que tinham menor capital econômico e linguístico. E o tema ainda não tinha ainda sido tratado devidamente. Outro fator, eu era jornalista em Osasco, em 1979, quando a anistia permitiu aos trabalhadores e sindicalistas retornarem à pátria.

Brasil no Mundo: Quais foram os grandes desafios na produção da obra?

Mazé Torquato Chotil: Saber quem eram esses trabalhadores (operários, empregados, marinheiros, entre outros) antes da partida para o exilio. E como encontrá-los para as entrevistas. Passados tantos anos, muitos já tinham desaparecidos.

Brasil no Mundo: Ao final do estudo, qual o seu sentimento em relação aos exilados? Você acredita que eles fariam tudo de novo?

Mazé Torquato Chotil: A luta deles por um mundo mais justo, para que todos brasileiros tivessem acesso à formação, trabalho e vidas decentes são valores que ainda continuam intactos. Entretanto, alguns que participaram da luta armada dizem que pegar em armas foi um erro de estratégia, não fariam novamente.

Brasil no Mundo: De todas as histórias dos exilados, qual foi a que mais mexeu contigo e por quê?

Mazé Torquato Chotil: A possibilidade que tiveram algumas mulheres, praticamente analfabetas, de terem acesso à formação até chegar às portas da universidade, em outra língua, é algo muito marcante. A dificuldade da saída do Brasil, sem deixar pistas para a polícia, de homens e sobretudo mulheres, me tocaram. Uma delas fez um percurso que levou cerca de três meses para sair de São Paulo e chegar, pela Bolívia, ao Chile. A chegada de um grupo na Suécia, saindo do Chile somente com uma muda de roupa de verão, em pleno inverno, sob tempestade de neve, depois de ter vivido cerca de dois meses fechados numa embaixada no Chile após a queda de Allende, também me emocionou.

Brasil no Mundo: Quais foram as maiores dificuldades que os exilados passaram na França logo após a chegada?

Mazé Torquato Chotil: Após a queda de Allende, foram poucos os trabalhadores que chegaram na França, antes país destino de estudantes e intelectuais. As dificuldades iniciais para os trabalhadores foram aprender a língua, encontrar moradia e trabalho. A preocupação com os “infiltrados” era uma realidade. A “polícia” tinha gente encarregada de espioná-los, ver o que eles estavam fazendo, o que frequentavam…

Brasil no Mundo: Quais serão os seus futuros projetos?

Mazé Torquato Chotil: Trabalho atualmente na biografia de José Ibrahim, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco em 1967 , afastado do cargo pelo governo militar durante a greve de 1968. Ele morreu em 2013.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #07