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Livro conta a história do exílio de lutadores brasileiros

Por Cristiane Alves | 03 set 2015

Os percalços, o aprendizado e a luta pela liberdade política para o Brasil empreendida pelos militantes contra a ditadura militar, mesmo que forçadamente afastados dele, são os assuntos da jornalista Mazé Chotill no seu mais recente livro “Exílios Operários”. Mazé Chottil esteve na Unifesp, na terça-feira, 1º, numa conversa com professores, estudantes da Unifesp e sindicalistas, promovida pela Universidade e o nosso Sindicato.

Mazé é jornalista osasquense, vive na França desde 1985, e lá aprofundou o conhecimento que vivenciou aqui no Brasil sobre o final da ditadura. “Em 1979, eu trabalhava no [jornal] Grande Osasco. Eu via os exilados retornando. Tinha a curiosidade: como tinha se virado, sem falar o idioma, sem ter condições econômicas?”, conta.

Resultado da pesquisa para tese de doutorado na Escola de Autos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, na França, a novidade do livro (“L’Exil Ouvrier”, é o título original) é contar a história dos exilados operários, agricultores, trabalhadores.

Foram quatro anos de pesquisa, que identificou que 10 mil pessoas foram para o exílio no período de ditadura. Destes, 130 foram banidos. Foi sobre estes que Mazé concentrou suas atenções, identificando aqueles que tinham origens ligadas ao trabalho no campo ou na cidade. Ao todo, a amostra envolveu 127 pessoas, sendo 37 sindicalistas.

Ibrahin e Neto – Entre os sindicalistas, estão José Ibrahin e Manoel Dias do Nascimento. Ibrahin era o presidente do Sindicato, em 1968, uma das lideranças que organizou a Greve de Osasco, que entrou para a história como a primeira afronta a ditadura militar. Já Manoel, conhecido como Neto, é diretor fundador do nosso Sindicato, trabalhador da Lonaflex, também foi uma das lideranças da Greve.

Após a greve, ambos partiram para a luta armada na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), foram presos e torturados pela ditadura. Ibrahim partiu para o exílio em Cuba, em setembro de 1969, após ser um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick. E Neto foi resgatado da prisão, em janeiro de 1979, no sequestro do embaixador suíço Giovanni Bücher, e foi para o exílio no Chile, junto com sua esposa Jovelina. O filho, sobrinhos e a mãe de Neto também havia sido presa, fora liberada em 1970, na lista dos 40 presos políticos libertados em troca do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, que tinha sido sequestrado.

Mazé assinala que nas entrevistas para o livro buscou entender como os trabalhadores procuraram lidar com todos os desafios que representavam aquela mudança forçada. “Ibrahin nunca tinha entrado um avião até então”, assinala.

O resultado é que no exílio demonstraram mais uma vez a obstinação que lhes faziam lutadores sociais: estudaram, militaram, conviveram com outras culturas. Na volta ao Brasil, com o processo de anistia, em 1979, essa bagagem foi agregada ao novo sindicalismo e ao nascimento do PT, assuntos também abordados pela autora.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18