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Desemprego e desigualdade de renda atrapalham avanços das mulheres

Por Cristiane Alves | 04 mar 2016

Mulher em Foco logoDesafios para a igualdade

Ser uma boa profissional, dar conta do trabalho, da Educação dos filhos, da casa, do marido. Essas são as obrigações básicas de toda mulher, correto? Esse é o modo como boa parte das meninas e dos meninos foram levados a acreditar que as mulheres devem ser. Mas não significa que seja verdade.

A luta das mulheres mostra que não, não tem de ser verdade. E é para inspirar cada vez mais esta luta que o Visão Trabalhista publica, ao longo deste mês, a série de matérias do “Especial Março”, que vai abordar os dilemas e os avanços nesta luta.

As reportagens serão publicadas neste mês de março em cada edição deste Visão Trabalhista e também no programa Visão Trabalhista Entrevista, na TV Osasco, e no www.sindmetal.org.br.

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Sem emprego, Josi vê as contas se acumularem

Sem emprego, Josi vê as contas se acumularem

Quando Josinalva Aguiar saiu da metalúrgica Keiko, em Taboão da Serra, não imaginava que sua agonia até uma recolocação profissional seria tão longa. Há seis meses, a metalúrgica de 43 anos, 15 deles dedicados à Keiko, procura um novo trabalho. Enquanto isso, ela vive a ansiedade de ver as contas chegarem, diante do encerramento das parcelas do seguro desemprego.

Como se não bastasse, na mesma época, suas duas filhas também ficaram desempregadas. Hoje, apenas uma delas conseguiu um novo trabalho, justamente aquela que não tem filhos, nem marido e é a mais nova.

A situação de Josi – como é conhecida – exemplifica o que tem passado muitas companheiras neste tempo de crise: as diferentes faces da discriminação em relação à mulher. “Eles estão escolhendo o que querem, do jeito que querem”, aponta.

Ela tenta achar uma explicação, tendo como ponto de partida os obstáculos que são colocados a mulher. “Estou divorciada, não tenho filhos pequenos. Eu no mercado de trabalho seria tudo, porque posso trabalhar a qualquer horário”, diz, mas conclui que o problema é que “tem muita gente procurando”.

Na comparação do desemprego, fica claro que as mulheres são ainda mais penalizadas: No Brasil, a taxa de desocupação feminina é quase o dobro da taxa masculina e essa relação não se modificou na última década (1,7 vez), de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, que comparou o período entre 2004 e 2014, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), em dezembro. Elas eram 8,7% dos desempregados em 2014, já os homens, 5,2%.

Na explicação do IBGE, a crise causa mais desemprego em setores que empregam mais homens. Ao mesmo tempo, quando há contratações, a preferência é pela mão-de-obra masculina.

Filhos – Edna Aparecida Vicente foi colocada diante de outro dilema: escolher entre cuidar dos filhos e a permanência no setor metalúrgico.

Em 2013, diante da proximidade do nascimento do terceiro filho, ela fez as contas e viu que era melhor sair do trabalho registrado numa metalúrgica de Vargem Grande. O salário não iria dar para cobrir as despesas com escola e com alguém para cuidar das crianças.

Edna sentiu na pele a desvalorização do trabalho da mulher, cujo salário equivale a 74% do recebido pelos homens.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

Desde então, ela trabalha em casa, ora vendendo lingerie, produtos de limpeza, pipas, ora fazendo unhas. “Estou trabalhando até mais [que na metalúrgica]. É muito cansativo”. Para ela, a solução seria poder deixar os filhos na escola o dia todo, para, então, conseguir voltar a trabalhar fora.

Soluções – A saída adotada por Edna é muito comum: recorrer ao trabalho informal como forma de garantir o equilíbrio entre o sustento e o contato com a família. Quando a solução ideal é o compartilhamento das responsabilidades entre homens, mulheres e, também, o Estado. “Na medida em que as mulheres se inserem no mercado de trabalho e as responsabilidades familiares possam ser compartilhadas, certamente, o empregador vai ver na mulher um potencial de trabalho e de investimento na sua profissão, na sua carreira, um potencial igual a dos homens”, avalia a economista Marilane Teixeira, professora da Unicamp.

Marilane ainda lembra que isso implicaria numa reavaliação dos direitos. “Isso obriga rediscutir licença paternidade, licença maternidade mais amplas. Por que os homens não podem ter licença paternidade mais ampla e a mulher também retornar ao trabalho com mais tranquilidade?”, questiona.

 

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18