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Sistemistas evitam demissões, mas param linhas

Por Auris Sousa | 25 abr 2014

As vendas estão em queda e a ociosidade, em alta. Mas as empresas da indústria de veículos sabem que ficará caro treinar novamente operários quando o mercado voltar a crescer. Por isso, enquanto atravessam a zona de turbulência, as grandes multinacionais do setor adiam o quanto podem a possibilidade de demissões em massa.

Praticamente desde o início do ano, esse cuidado vem sendo tomado por montadoras a partir de medidas de flexibilização como paradas pontuais de linha, antecipação de férias e afastamento temporário de trabalhadores. Agora, iniciativas do tipo começam a ser adotadas pelos maiores sistemistas de autopeças.

Os ajustes de produção já acontecem, ou estão sendo negociados, em multinacionais como Continental, Cummins, Meritor e Benteler, além dos fabricantes de implementos rodoviários de Caxias do Sul (RS) Randon e Guerra.

Como quase 70% das vendas de autopeças vão para as montadoras, num sistema de produção de baixos estoques, as paradas nas fábricas de veículos, inevitavelmente, se replicaram rapidamente na cadeia de fornecedores. E como cada emprego nas montadoras equivale a cerca de quatro vagas na cadeia de suprimentos, a situação causa grande preocupação quanto à manutenção dos postos de trabalho no caso de a crise se prolongar por mais tempo. “O que é resfriado nas montadoras pode ser pneumonia para uma empresa de autopeças”, afirma Jorge Nazareno, presidente do sindicato dos metalúrgicos de Osasco (SP), onde a fabricante de eixos Meritor vai interromper a produção por até 16 dias entre abril e julho.

No sul do Rio de Janeiro, a Benteler, que monta sistemas de suspensão, fechou um turno de trabalho após sua cliente na região, a Peugeot Citroën, cortar em quase 30% a produção de carros. No ABC paulista, a Karmann-Ghia, que fornecia peças à aposentada Kombi, tem 250 trabalhadores afastados da produção desde março.

A multinacional alemã Continental, um dos três maiores grupos de autopeças do mundo, também decidiu diminuir o ritmo para se adequar aos cortes na produção de carros. Entre 30 de abril e 11 de maio, a empresa vai antecipar as férias coletivas de 250 operários – ou cerca de 25% do efetivo – da linha de fundição na fábrica de freios hidráulicos em Várzea Paulista, no interior de São Paulo.

Segundo Manuel Mota, diretor de vendas do grupo, a iniciativa tem o objetivo de ajustar a força de trabalho sem que sejam feitos, pelo menos por enquanto, cortes de pessoal. “Vamos esgotar todos os recursos legais para preservar os empregos”, diz o executivo.

A Cummins, fabricante de motores a diesel, planeja dar, em junho, férias coletivas de doze dias na fábrica de Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo informações de dirigentes sindicais da região, as férias vão acontecer entre os dias 12 e 23 de junho, mas a empresa prefere não comentar isso porque os ajustes na linha, segundo ela, ainda estão em negociação.

Os sindicalistas contam que, afetada pela queda nas encomendas da indústria de veículos pesados, a Cummins reduziu em 13 mil motores a programação da produção deste ano, que estava em mais de 70 mil unidades.

Fabricantes de carretas, instaladas em caminhões para o transporte de cargas, também estão cortando a produção diante da queda de 11,3% das vendas de veículos pesados. A Randon, a maior do setor, adiou o retorno dos funcionários do feriado de Páscoa e Tiradentes ao parar a fábrica em Caxias do Sul no último dia 22. Outra paralisação está programada para 2 de maio, na emenda do feriado do Dia do Trabalho. A empresa informa que o objetivo é regularizar os estoques e diz que as paradas em dias úteis – ou seja, fora dos feriados – não serão remuneradas.

Outra importante fabricante de implementos, a Guerra, também de Caxias do Sul, vem desde março operando em esquema de semana curta de trabalho, com um dia a menos de produção. Ricardo Mendes, gerente de recursos humanos da Guerra, uma das três maiores da indústria de reboques, diz que ainda tem outras alternativas de ajuste, como antecipar as férias coletivas. “Temos essa carta na manga se for necessário”, afirma. [Fonte: Valor Econômico/Link: http://www.valor.com.br/empresas/3526760/sistemistas-evitam-demissoes-mas-param-linhas]

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Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #12