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OIT: medidas sustentáveis podem tornar empresas latino-americanas mais competitivas

Por admin | 15 fev 2013

Abrir um negócio na América Latina ou no Caribe pode levar 71 dias, em média. Os trâmites para pagar impostos, 497 horas. Nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), grupo de nações de alta renda, o mesmo negócio seria aberto em 12 dias e os impostos, pagos em 186 horas. Os dados fazem parte do relatório O Desafio da Promoção de Empresas Sustentáveis na América Latina e no Caribe: uma Análise Regional Comparativa, divulgado nesta sexta-feira, 15, pela OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Segundo a organização, esses fatores fazem parte de uma cadeia de gestão, que acaba comprometendo a produtividade e a competitividade dos produtos latino-americanos e caribenhos – questões estruturais na região, que devem ser combatidas por meio de políticas econômicas, sociais e ambientais.

“As empresas devem ter uma perspectiva holística, equilibrada e integrada do desenvolvimento, que difere da ideia empresarial que concebe as empresas como uma relação entre insumo e produto, dedicadas exclusivamente a maximizar o lucro no curto prazo”, informou o relatório.

A preocupação com os objetivos de médio e longo prazo é característica fundamental para que as empresas sejam sustentáveis, segundo a avaliação da OIT. De acordo com a organização, o empresariado deve se preocupar com 17 condições de sustentabilidade, agrupadas de acordo com o contexto econômico, político, institucional, social ou ambiental.

A OIT apontou que o maior desafio da região é a competitividade. A região está em desvantagem em relação a outros países no que tange à exclusão social, à economia informal e à proteção social dos trabalhadores – fatores que acabam comprometendo o desempenho de uma empresa em relação a concorrentes.

“Temos que fazer mais pelo desenvolvimento de empresas geradoras de empregos de qualidade, que sejam sustentáveis e viáveis, com acesso a mercados e financiamento, com facilidades para atuar na economia formal, porque esse é um dos principais caminhos para impulsionar o crescimento econômico e avançar no desenvolvimento”, disse, em nota, a diretora da OIT para a América Latina e o Caribe, Elizabeth Tinoco.

Outros pontos que também comprometem a sustentabilidade empresarial são o contexto de corrupção, a insegurança e a violência, que podem dificultar a prosperidade de um negócio e o investimento. Em relação ao meio ambiente, a dependência da região de recursos naturais, a vulnerabilidade às mudanças do clima, o impacto de desastres naturais, o desflorestamento e a contaminação do solo e da água são fatores com os quais empresas devem se preocupar.

O empresariado na região, segundo a OIT, é majoritariamente formado por autônomos e pequenos empresários. Cerca de 66,5% de todas as empresas têm essas características, 20% são pequenas e médias e 13,5%, grandes. No total, há aproximadamente 11 milhões de negócios na América Latina e no Caribe. O setor privado emprega a maioria das pessoas, 79% do total.

O conceito de empresa sustentável está relacionado ao de desenvolvimento sustentável – forma de progresso que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas.

Em Goiânia, uma construtora que emprega cerca de 150 pessoas adota diversas medidas que tornam a empresa sustentável. O negócio tem cinco certificações: qualidade e produtividade, gestão da qualidade, gestão ambiental, gestão da saúde e da segurança do trabalho e de responsabilidade social.

De acordo com o gestor de obras da Pontal Engenharia, Wesley de Andrade, o custo de produção da empresa aumentou em um primeiro momento, mas a economia, gerada por meio das medidas de sustentabilidade adotadas, tornaram o negócio mais competitivo.

“Ampliamos o conceito de qualidade. Além da preocupação de termos um bom produto para o cliente, entendemos que deve haver qualidade com o meio ambiente, a saúde, a segurança e a responsabilidade social. É trabalhoso, mas não tão complicado”, informou o engenheiro civil.

Segundo Wesley, a empresa chegou a um denominador comum dos interesses das partes envolvidas no processo. Como todos têm interesses, foi adotado um equilíbrio aceitável e negociado entre os envolvidos – o cliente, o meio ambiente, a comunidade, o Poder Público e, principalmente, os trabalhadores, por quem passa toda a riqueza e os bens entregues aos clientes.

Para isso, desde 2006, em todas as obras, há uma escola para a alfabetização dos funcionários. “Resolvemos elevar o critério de contratação para pessoas alfabetizadas, mas nos esbarramos em um problema social. Se eu só contratasse as pessoas com escolaridade, iria criar mais desigualdade. Então propusemos dar a colocação profissional com o compromisso de elevar a escolaridade”, informou Wesley.

A empresa diminuiu a geração de resíduos em um terço, por meio da reciclagem e da diminuição do descarte de resíduos no próprio local das obras. O que é reaproveitado, volta para a empresa como dividendos – valor que não é gasto na compra de matéria-prima. No canteiro, ainda há projetos para segurança e ergonomia dos trabalhadores.

A sustentabilidade é repassada também para as construções da empresa: nos projetos, há previsão de aproveitamento da água da chuva, hidrômetros individuais, poços de recarga de água do lençol freático, reaproveitamento da água do ar condicionado e aquecimento solar dos chuveiros.

“Todos têm de entender que se produzirmos melhor, usando o mínimo necessário, reciclando e tendo consciência, é bom para todo mundo. A sustentabilidade tem de ser entendida como um tripé, que associa o meio ambiente, o social, a economia. Sem uma dessas partes, o tripé não se sustenta”, explicou.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18