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“Assédio moral é um terrorismo psicológico”, diz Margarida Barreto

Por Auris Sousa | 19 jun 2015

Ao alertar sobre as consequências das jornadas de trabalho excessivas e da pressão por produtividade, a médica do trabalho Margarida Barreto falou sobre as complexidades do mundo contemporâneo e como a situação financeira está aliada aos prejuízos que recaem sobre a sociedade: o assédio moral, interpretado pela especialista como um “um terrorismo psicológico”. O alerta aconteceu na quinta-feira, 18, durante 36º Ciclo de Debates, que aconteceu na subsede de Taboão da Serra.

Por meio de exemplos reais, a especialista mostrou que de forma sútil muitas empresas instalam o individualismo, ao exigir do trabalhador um novo perfil: autônomo, flexível, competitivo, criativo e qualificado. “Somos feitos de amizades, a nossa essência é de afeto”, ressaltou.

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Só que essa necessidade de aproximação é colocada em xeque quando as empresas, criam “enganação disfarçadas de solução”. Com um discurso sedutor, criam ações que distanciam cada vez mais as pessoas. “É no trabalho que você vive grande parte do seu dia e ali a composição ética entre os corpos daqueles que vivem do trabalho, depende direta ou indiretamente das ideias criativas, da autonomia, do saber-fazer, do reconhecimento daquilo que faz, do respeito mútuo”, pontuou Margarida.

Ela explicou que esses aspectos sustentam os afetos de solidariedade, permitindo bons encontros no coletivo. “Quando esse ambiente é flexibilizado e precarizado, dominado por pressões e humilhações, exigências de metas e violações constantes, o que resta? Um homem fragmentado, dividido. As ações limitam a comunicação do trabalhador com o coletivo”.

A sobrecarga de trabalho, humilhação constante, apelidos, e até mesmo dinâmicas exageradas podem ser indícios de assédio moral. A pratica pode estar ligada aos fatores organizacionais, estratégias de gerenciamento. “Independente do caso, a empresa é responsável ou corresponsável”, alertou Margarida.

Assédio moral anda do lado da depressão – Uma das consequências do assédio moral é a depressão. “Quando a aceleração é continuada leva a depressão. Aceleração é traduzida em metas [a cumprir], produtividade, e resposta veloz. O trabalhador passa a ter estresse, desanimo, falta de prazer e sentido no trabalho”, detalhou Margarida.

Se não tratada a tempo, à vítima de assédio moral pode cometer até suicídio. A prática é brutal, por isso deve ser combatida e denunciada. “A emissão da CAT é essencial, e serve como uma prova, e o trabalhador tem direito de exigi-la, porque foi humilhado e está com depressão, e não é porque foi fraco, mas sim porque foi vítima de assédio moral”, advertiu Margarida.

“A luta deve ser conjunta para eliminar o assédio moral, e qualquer outro problema no local de trabalho. Temos que dar visibilidade para este problema, escutar e compreender melhor o mundo do trabalho de hoje que na aparência parece ser maravilho, mas em que as relações de trabalho são as piores”, enfatizou Margarida.

Processo de fiscalização – Como gancho Fernanda Giannasi orientou os trabalhadores a não se sujeitarem a situações de humilhação. “ Não fechem os olhos com o que acontece com o seu colega de trabalho. Será que somos solidários ou nos omitimos? Quando a gente se omite somos cúmplices. Por isso que a luta deve ser coletiva”.

Com anos de atuação como auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda logo manda: “O Ministério não está preparado para fiscalizar assédio moral”. Mas essa não foi a única crítica que ela fez ao órgão, entre as demais estão:

– Estrutura propicia o balcão de negócios e negociatas;

– Tem quadros despreparados técnica e politicamente;

– Falta transparência nas ações;

– Lentidão;

– Privilegiada a produção quantitativa e não qualitativa;

– Ações em SST praticamente desapareceram na atual administração;

– Dialogar mal com a sociedade e se relaciona mal com outras entidades e atores sociais, imprensa

– Negociado sobrepondo-se ao legislado;

Além disso, apresentou a falta de segurança que sofrem os auditores fiscais e a falta de transparência nas ações do órgão. “Não chama o Sindicato para acompanhar as fiscalizações, o Ministério não passa as informações. Não tem sentido dizer que o sindicato atrapalha as investigações”, avaliou.

Para ir contra o descaso com as fiscalizações, Fernanda defende que “temos que empoderar nossas ações. Até a internet serve para mobilização. Vamos ter de ser revolucionários para mudar estas ações e tratar o assunto com mais seriedade”,

O que mudar: Segundo Fernanda, urgentemente a política da Sefitque está sucateando a área de SST para o favorecimento de interesses pessoais e dos políticos de plantão e interesses de lobbies e não do estado brasileiro.

Ela também defende que as ações devem ser pensadas regionalmente junto com parceiros sociais, que devem ser ampliados e consultados e função do desenvolvimento regional. Assim como mudança na estrutura da Gifa, motivar os auditores fiscais e descentralizar urgente do DSST e da Sefit, transformando-os em órgão e assessoria ao ministro e meros facilitadores e ações.

 

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #07