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Movimento pelas “Diretas, Já!” completa 30 anos

Por Cristiane Alves | 28 jan 2014

O movimento que levou milhões de brasileiros às ruas de todos o país para cobrar o direito de eleger o Presidente da República por voto direto completa 30 anos nestes primeiros meses de 2014.

As “Diretas, Já!”, como ficou conhecido, se tornou chegou ao ponto de fervura em 1984. Mas, o primeiro ato aconteceu ainda 1983, em 27 de novembro, em frente ao estádio do Pacaembu (SP), sob a direção do então presidente do PT, Luis Inácio Lula da Silva.

O objetivo era pressionar o Congresso Nacional a aprovar a emenda Dante de Oliveira, que instituiria o processo de eleições diretas. Além disso, os trabalhadores viviam sob o arrocho salarial, recessão econômica e altas taxas de inflação.

A partir de janeiro de 1984, o movimento foi se fortalecendo a cada ato que ocorria país afora. “Mais de 5 milhões de pessoas ocuparam as ruas e praças de várias cidades (capitais e cidades do interior, grandes e pequenas), em todos os estados da federação, durante os quatro primeiros meses de 1984”, afirma o pesquisador do assunto e professor do Departamento de Sociologia da USP, Edison Bertoncelo.

Em 25 de janeiro, o aniversário de São Paulo foi marcado com um ato na Praça da Sé em que 300 mil pessoas exigiram Diretas, Já!

O movimento foi ganhando força em todo o país. Foram constituídos comitês pró-diretas, realizados novos atos e o debate ganhou força num país que cada vez mais deixava claro que não suportava o silêncio imposto pela ditadura militar.

Em 10 de abril de 1984, 1 milhão de pessoas se reuniam na Avenida Presidente Vargas, em frente à Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, para participar do comício pelas Diretas, Já!

Seis dias depois, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, 1,5 milhão de pessoas somavam a vontade de ver os brasileiros livres para votar. No palco, lideranças de diferentes correntes políticas: Lula, Fernando Henrique Cardoso, Tancredo Neves, Leonel Brizola.

Metalúrgicos presentes – Os metalúrgicos da região de Osasco marcaram presença entre a massa de trabalhadores no Anhangabaú. “O Sindicato fez mobilização nas fábricas e direcionou toda a sua estrutura para aquele ato. Foi para lá com cartazes e faixas”, conta o vice-presidente Carlos Aparício Clemente, na época, recém-chegado à diretoria da entidade.

Os trabalhadores vinham de uma sequência de evolução em termos de organização e lutas: com as greves de 1978 no ABC, a fundação do PT (1980) e da CUT (1983), a realização da I Conclat (1983) – Conferência da Classe Trabalhadora – e a evolução das cláusulas das convenções coletivas, num contexto de forte arrocho econômico sobre o trabalhador. “A gente vinha das greves de 78, com o nascimento das cláusulas de saúde na Convenção Coletiva porque antes a gente só tinha a luta por salário. Isso tudo significava mais independência para o mundo do trabalho”, lembra Clemente.

A esse fator, o professor Bertoncelo soma uma conjuntura de “grave crise política” marcada pela crise de Estado: “gerada pela drástica redução da capacidade estatal em promover o desenvolvimento capitalista”; crise de regime: “gerada pelas alterações das relações de poder entre os principais centros de poder político”; crise de governo: “caracterizada pelo enfraquecimento da autoridade presidencial, pela paralisia decisória, pela fragmentação da base político-partidário da sustentação do governo federal no Congresso Nacional”.

Mas, o Congresso controlado pela ditadura não ouviu o clamor popular: recusou a emenda Dante de Oliveira, na votação realizada em 25 de abril. Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral e a eleição direta para Presidente, finalmente, só veio a ocorrer em 1989.

Porém, as “Diretas” contribuíram para o fim da ditadura. “O apoio maciço da população à campanha acelerou o processo de deslegitimação do regime, minando suas principais bases de sustentação política e social”, avalia Bertoncelo.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18