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Encontro Anual do Espaço da Cidadania reforça luta pela inclusão

Por Auris Sousa | 28 nov 2019

O público que passou pelo Pomar Dom Paulo, ao lado da Biblioteca de São Paulo, no início da tarde de terça-feira, 26, encontrou muito mais que uma praça: a diversidade estampada em cada participante que ao longo de mais um ano uniu esforços pela luta da inclusão de pessoas com deficiências. Tratava-se do encerramento do 12º Encontro do Espaço da Cidadania.

Mais cedo o grupo se reuniu dentro da Biblioteca. Carlos Aparício Clemente, diretor do Sindicato e coordenador do Espaço da Cidadania, abriu o Encontro com a frase: “Ninguém consegue destruir um conhecimento coletivo”, em referência a importância do trabalho conjunto, como o realizado pelos participantes.

Em seguida o professor Romeu Sassaki, grande especialista na questão da inclusão no Brasil, falou sobre as sete dimensões da acessibilidade, que, resumidamente, apontam “caminhos” para o rompimento de barreiras por meio arquitetônico, atitudinal, comunicacional, metodológico, instrumental, programática e natural.

Sete dimensões da acessibilidade:

1. Arquitetônica: barreiras em espaços e prédios públicos e privados.

2. Atitudinal: barreiras culturais, preconceitos e estigmas.

3. Comunicacional: obstáculos na comunicação interpessoal

4. Metodológica: obstáculos nos métodos, técnicas e processos de trabalho.

5. Instrumental: barreiras nas ferramentas e instrumentos de trabalho.

6. Programática: obstáculos invisíveis existentes em legislações, normas e regulamentos.

7. Natural: barreiras e obstáculos da natureza.

“Uma empresa, por exemplo, que não tem visão de inclusão, vai querer encaixar uma pessoa com deficiência exatamente naquela vaga ou função, cujos requisitos estejam na pessoa que vai ocupar o lugar, sem requerer nenhuma adaptação no local. Isso é integração e não inclusão. Inclusão é moldar a empresa, seu sistema e fluxos de trabalho, sua política interna, suas normas, modo de produção e equipamentos, tudo para acolher a pessoa, independente de suas limitações”, explicou professor Romeu, que destacou que enquanto a sociedade não remover as barreiras nessas sete dimensões, ainda haverá exclusão.

Para os participantes compreenderem melhor as barreiras, Aline e Rafael da Santa Causa promoveram uma dinâmica, na qual convidavam as pessoas a identificar a barreira, a sua dimensão de acessibilidade e a ação que precisava ser adotada para rompe-la e, então, promover a inclusão. Nela, ficou claro que, em algumas circunstâncias, nem é necessário desembolsar dinheiro para que acessibilidade ocorra.

Em seguida José Carlos do Carmo, o Kal, auditor fiscal do trabalho, destacou a importância do trabalho coletivo, as mudanças nas estruturas da fiscalização trabalhista e compartilhou informações sobre caracterização de deficiências, que mais tarde foi destacada por Andrea Goldberg, da Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda de Osasco.

Raio-X

Pedro Neto, técnico do Dieese, fez um raio-x das pessoas com deficiência que estão no mercado de trabalho: 64% são homens, 48% brancos, 47% tem ensino médio completo, 41% estão no setor de serviços, 47% tem deficiência física e 76% estão em empresas com mais de 100 trabalhadores.

O evento também contou com a participação da Glaucia Ribeiro, da Specialisterne Brasil, e da Rita Louzeiro, da ABRAÇA, por mensagem gravada. Ambas colaboraram com a atualização da cartilha “Conviva com a Diferença”, que, agora, também fornece informações sobre autismo e transtorno mental.

Autista, Rita compartilhou com os participantes a necessidade de respeitar os stins das pessoas autistas. Stins são movimentos corporais repetitivos que autoestimulam um ou mais sentidos, de maneira regulada. Cada um tem o seu. Rita explicou que tem gente que recorre, por exemplo, ao cigarro quando está ansiosa ou nervosa. Já uma pessoa autista pode recorrer, por exemplo, a movimentos repetitivos com a cabeça, para encontrar o “alivio” que necessita.

No final, o grupo se reuniu ao lado da Biblioteca, no Pomar Dom Paulo. Ali Sergio Gomes, Oboré, explicou sobre a história de Dom Paulo e do parque, onde estão plantadas 30 mudas frutíferas representando os artigos da declaração universal dos Direitos Humanos. Ressaltou a importância de as pessoas conhecerem e fazerem parte dos espaços públicos, apropriem-se deles. Isto porque quando isso acontece as pessoas começam a se enxergar na esfera pública, desejam participar das decisões sobre o destino dos espaços públicos, desejam participar da construção do que é o público.  

Um piquenique coletivo onde os participantes compartilharam alimentos, bebidas e conhecimento foi o grande final do Encontro, que, além de reforçar a luta pela inclusão, destacou que incluir e compartilhar não significam dividir, mas sim multiplicar.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18