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Trabalhadores criam grupo para investigar intervenções da ditadura

Por Cristiane Alves | 01 jun 2017

Recuperar a história sobre o modo como a ditadura reprimiu a organização dos trabalhadores e os dirigentes sindicais é o objetivo do grupo de trabalho da Comissão da Verdade no Ministério do Trabalho, que realizou sua primeira audiência pública na quarta-feira, 31, na sede do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), em São Paulo.

Composto por nove centrais sindicais, o grupo foi constituído em 2014, atendendo uma das recomendações dos trabalhadores a CNV (Comissão Nacional da Verdade), de que o Ministério do Trabalho realize um levantamento de todas as entidades sindicais que sofreram intervenção, entre os anos de 1946 e 1988.

O nosso Sindicato é uma dessas entidades. Foram duas intervenções, uma em 1964, logo após o golpe, e outra em 1968, em represália a organização da greve de Osasco. Em ambos os casos, as diretorias foram cassadas, reprimidas e a categoria ficou à mercê de interventores cumpridores das ordens da ditadura.

A intervenção foi mais um braço de uma nova ordem de controle e perseguição instalada dentro das fábricas. O historiador Murilo Leal, professor do campus Osasco da Unifesp, classifica essa ordem como novo regime fabril, militarizado e voltado a super exploração da força de trabalho. “As empresas tiraram todo proveito possível da ditadura para super explorar os trabalhadores. Entender isso é muito importante para compreender o comportamento da burguesia brasileira, ontem e hoje”, analisa. O conceito criado por Murilo foi adotado pela CNV em seu relatório final.

De acordo com a historiadora Heliene Nagasava, somente nos dois primeiros anos, a ditadura interviu em pelo menos 2 mil sindicatos. Argumentavam que estavam cumprindo a lei, que previa intervenção em caso de ausência ou prisão dos dirigentes ou em caso de subversão. Porém, há registros de prisões de dirigentes para prestar depoimentos, já no primeiro dia após o golpe. Heliene estudou as intervenções ocorridas durante o governo Castelo Branco (1964-1967).

Além disso, o Ministério do Trabalho teria de alegar caso a caso qual era o crime cometido; mas não era isso que acontecia. “Os processos eram movidos por vingança”, afirma Heliene.

Porém, as condições dos arquivos do Ministério do Trabalho mostram que não será um trabalho nada fácil. Pilhas e pilhas de caixas foram amontoadas em dois depósitos, nos quais a chuva e a poeira degradam os papéis. A desorganização não permite saber facilmente os tipos de documentos ali guardados. Descaso com documentos que podem dizer muito sobre a história dos trabalhadores e de suas entidades.

Por isso, o grupo de trabalho entregou ao representante do ministério do Trabalho na audiência, Antonio Artequilino, um documento solicitando a preservação dos arquivos, que se prontificou a entrega-lo em mãos ao ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.

Serão realizadas mais cinco audiências públicas, em Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Porto Alegre (RS) e Brasília (DF). Será produzido um relatório a ser apresentado em São Paulo, em 5 de dezembro.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18