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Por saúde e segurança, trabalhadores foram vítimas mas também desafiaram a ditadura

Por Auris Sousa | 25 nov 2024

A ditadura civil militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985, deixou marcas profundas em diversos setores da sociedade, inclusive na saúde do trabalhador. Neste período, o Brasil foi campeão em números de acidente de trabalho. Mas, apesar da repressão, os trabalhadores resistiram e, até os dias atuais, lutam em defesa da vida. Estes foram os principais assuntos do debate promovido pela Fundacentro na sexta-feira, 22.

A atividade, nomeada de 60 anos da Ditadura Militar: explosão de acidentes e as resistências na área de segurança e saúde no trabalho”, foi conduzida com informações sobre o número de acidentes, envolvimento das empresas com a ditadura e exemplos relacionados a acidentes e doenças do trabalho.

Luci Praun, coordenadora de Projetos da Fundacentro, foi a responsável por compartilhar os números elevados de acidentes. De acordo com dados coletados na Previdência Social, em 1974, o Brasil registrou 1.796.761 acidentes de trabalho. Em 1975, chegou a ter 1.916.187. E, 1976, o total registrado foi de 1.743.825.

Luci, no entanto, destacou que os números tendem a ser ainda maiores, já que os dados coletados se referem apenas aos trabalhadores formais.

Eliminação de Direitos

A supressão das liberdades, o arrocho salarial e a redução de direitos tornaram o país campo fértil para a explosão de acidentes. Pressionados, muitos trabalhadores eram submetidos ao cumprimento de horas extras exaltantes de trabalho.

A precarização no local do trabalho, no entanto, perdura até hoje como mais uma das heranças deixadas pelos anos de chumbo. Isto porque ainda sofremos com os altos índices de acidentes, com a falta de investimento em políticas de segurança no trabalho e com o sucateamento das estruturas governamentais.

Reação à Ditadura

A dificuldade de certo existia, mas a reação foi certa. Tanto que, em 1979, aconteceu a I Semsat (Semana de Saúde do Trabalhador), com a participação de 1.800 trabalhadores, 49 sindicatos e sete federações de trabalhadores. O principal tema de discussão foi doenças pulmonares causadas por poeira, como a silicose.

“Não havia controle algum em relação a proteção da saúde dos trabalhadores, não havia diagnostico, não havia fiscalização do trabalho. Tentamos, então, fazer uma articulação para dar visibilidade para esta questão”, explicou Carlos Aparício Clemente, coordenador do Espaço da Cidadania, que naquela época (1979) fazia parte da diretoria do Sindicato.

Foi naquela semana que surgiu a ideia de o movimento sindical criar um departamento para estudar as questões relacionadas à saúde e segurança dos trabalhadores. No ano seguinte, nasceu o Diesat (Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho).

Clemente também compartilhou informações sobre a empresa Meridional, fabricante de baixelas e talheres, que, por várias vezes, foi denunciada por expor seus trabalhadores ao risco de doenças e morte. 

Assista ao evento: 

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #28