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Mônica Veloso, da CNTM, e Cindy Estrada, do Uaw, respondem questões sobre mulher e sindicalismo

Por Cristiane Alves | 12 mar 2018

A vice-presidenta do UAW (Sindicato dos Metalúrgicos dos Estados Unidos), Cindy Estrada, retribuiu as perguntas feitas por Mônica Veloso, vice-presidenta da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos).

Cindy Estrada – Quais são os principais problemas enfrentados pelas trabalhadoras no Brasil?

Mônica Veloso – No Brasil, temos ainda lutas históricas em defesa das mulheres, em busca de igualdade e equidade dos direitos entre os trabalhadores e as trabalhadoras, contra as desigualdades no mercado de trabalho, desde o momento da contratação, contra os vários tipos de assédio e violência e por melhores condições de trabalho para as companheiras.
Outra questão é o desemprego. Temos hoje no Brasil cerca de 13 milhões de desempregados, sendo que mais de 50% são mulheres. Além disto, a recente reforma trabalhista e a terceirização precarizam as relações de trabalho e penalizam principalmente os grupos sociais mais vulneráveis, como as mulheres.
Continuamos também com a mobilização contra a reforma governista da Previdência. É uma reforma que, ao aproximar a idade de aposentadoria de homens e mulheres, irá sobrecarregar ainda mais as mulheres, que são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico não remunerado no âmbito domiciliar, e tornará mais difícil às companheiras terem acesso à aposentadoria.

Cindy Estrada – Na área metalúrgica, existe igualdade de gênero em relação a posições e salários ou a disparidade ainda é muito ampla?

Mônica Veloso – Temos leis que falam em igualdade, mas na prática a disparidade é ampla. Além das dificuldades de ocuparem determinados postos de trabalho, para cargos equivalentes as mulheres ganham 37% a menos que os homens. Mesmo com escolaridade maior que os homens, as mulheres são injustiçadas pelo mercado de trabalho.

Cindy Estrada – Que ações da CNTM foram efetivas no combate a desigualdades e vários tipos de assédio comum contra nossas irmãs no local de trabalho?

Mônica Veloso – A CNTM tem procurado fortalecer cada vez mais as Convenções Coletivas de Trabalho, dentro das ações unificadas com as centrais sindicais, as demais confederações reunidas no Fórum Sindical dos Trabalhadores e as entidades do novo movimento Brasil Metalúrgico. Pois as Convenções terão um papel crucial no enfrentamento à perda de direitos da classe trabalhadora e devem ser um instrumento a mais na defesa dos direitos da mulher trabalhadora, contra as desigualdades, a violência e o assédio. Defendemos o estabelecimento do Contrato Coletivo Nacional de Trabalho, que pode também estabelecer parâmetros básicos em respeito às reivindicações das trabalhadoras e fazer fortes campanhas de sindicalização com ênfase na associação de mulheres.

Cindy Estrada – Como a CNTM vê as ações sindicais nos Estados Unidos e globalmente em defesa de mulheres trabalhadoras e quais ações conjuntas poderíamos promover no futuro?

Mônica Veloso – É preciso agir com fraternidade e solidariedade global, fomentando o intercâmbio de informações e a troca de experiências, para que todos nós possamos conhecer na prática as ações em defesa dos direitos das trabalhadoras nos dois países e a presença da mulher nas lutas sindicais. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, considero fundamentais os avanços na constituição de quadros de dirigentes mulheres, redes sindicais e acordos macros, como importantes instrumentos para as entidades sindicais em cada país atuarem na proteção da mulher trabalhadora e nas lutas por oportunidades iguais e contra as injustiças.

Vice-presidente do UAW, Cindy Estrada

Respostas da vice-presidente do UAW, Cindy Estrada

Quais são os principais problemas enfrentados pelas trabalhadoras dos Estados Unidos? Na metalurgia existe igualdade entre os gêneros, em termos de postos de trabalho e paridade salarial, ou a desigualdade é ainda muito grande? 

Cindy Estrada – As trabalhadoras dos Estados Unidos sempre enfrentaram assédio e discriminação de gênero no ambiente de trabalho, incluindo a falta de paridade salarial e acesso a posições de liderança e a certos postos dominados por homens. Também enfrentamos questões inter-relacionadas, como a falta de creches e saúde financeiramente accessíveis e licença maternidade e paternidade pagas. Estes são problemas enfrentados pela maioria das trabalhadoras, sejam elas operárias ou trabalhadoras em escritórios.

Nos Estados Unidos, apenas 11% da força de trabalho é sindicalizada e as americanas que fazem parte de um sindicato têm condições salariais, oportunidades de promoção, saúde e licenças médicas melhores que suas companheiras não-sindicalizadas. Trabalhadores sindicalizados ganham, em média, quase 30% a mais que os não-sindicalizados. A diferença que um sindicato faz é ainda maior entre os trabalhadores hispanos e latinos, que ganham 40% a mais que os não-sindicalizados.

Além das diferenças salariais, há diferenças de oportunidade para as mulheres que querem ser promovidas e exercer cargos mais bem pagos em setores onde há mais homens do que mulheres, como as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, e as profissões especializadas. O assédio sexual e as atitudes negativas em relação às mulheres impactam todas as mulheres sindicalizadas e não-sindicalizadas, tanto dentro quanto fora do ambiente de trabalho. Nos últimos anos, as mulheres têm se unido para dizer em alto e bom tom: Basta! Isto ficou claro com as marchas de mulheres nos Estados Unidos e no mundo em janeiro de 2017, logo após Donald Trump ter assumido a presidência dos Estados Unidos. Ainda estamos sentindo o poder dos mais de 4 milhões de mulheres e homens que marcharam no mundo inteiro para reivindicar direitos, respeito e oportunidades iguais para as mulheres.

Nos Estados Unidos, as mulheres também estão exigindo o fim do assédio e do abuso sexual em suas vidas profissionais com a ascensão do movimento #metoo (#eutambém), que as mulheres da indústria do entretenimento começaram, e que tem se expandido para outras indústrias. O UAW está junto com elas, as apoia, e continuará a reivindicar mudanças reais ao seu lado.

Quais ações do UAW têm sido eficazes na luta contra a desigualdade e os vários tipos de assédio contra nossas companheiras no ambiente de trabalho? 

Cindy Estrada – Nosso sindicato tem deixado muito claro que temos tolerância zero pelo assédio sexual. Nos últimos 20 anos, o UAW tem tido uma política publicada de ensinar nossas seções locais sobre como lidar com casos de assédio sexual no local de trabalho, incluindo como lidar com as denúncias de assédio sexual. Nos últimos anos, também avançamos muito na questão da seleção de mais mulheres para postos de liderança no UAW. Por exemplo, em torno de 16% dos nossos sócios ativos são do sexo feminino. No entanto, em torno de 30% das posições de liderança em nosso sindicato são ocupadas por mulheres, das quais 26% são posições de alto escalão: presidentes de seções locais, vice-presidentes, tesoureiras e secretárias-executivas.

Nossos contratos sindicais têm sido ferramentas importantes para ajudar na luta contra a disparidade salarial e de benefícios, e aumentar nossas políticas de apoio às famílias, que ajudam tanto as mulheres quanto os homens a cuidarem de suas crianças e idosos sem sacrificar seus empregos. Também temos programas especiais para estimular as mulheres do UAW dos setores de peças e montagem a considerar o trabalho em profissões especializadas. Ainda temos muito o que fazer nesta área de oportunidade,mas continuamos a encorajar as mulheres a considerar o trabalho em profissões especializadas, e colocamos mulheres nas comissões de aprendizagem conjuntas para ajudar a aumentar o número de mulheres do UAW em todos os ofícios.

Em casos de assédio sexual pela gerência ou colegas, representamos nossas sócias para nos certificarmos de que elas estão seguras e de que iremos lidar rápida e corretamente com o assediador. Para reduzir e, futuramente, eliminar o assédio entre nossos sócios, estamos realizando oficinas de treinamento e discussões para ajudar homens e mulheres a verem o dano que o assédio sexual e o abuso causam para todo mundo.

Ensinamos isto empregando os valores de solidariedade sindical e mostrando que o assédio entre colegas só faz nos dividir quando precisamos estar unidos. Também estamos ensinando nossos sócios que eles podem fazer sua parte como testemunhas e observadores do assédio sexual, aconselhando outros colegas a parar com seu comportamento inapropriado. Estamos treinando as lideranças das nossas seções locais para que elas possam entender seu papel na mudança de uma cultura do ambiente de trabalho que tolera o assédio sexual ou as atitudes negativas em relação ao gênero, e oferecendo este treinamento aos nossos sócios. Acreditamos que tanto os homens quanto as mulheres têm a responsabilidade de realizar este importante trabalho.

Como o UAW vê as ações sindicais no Brasil em defesa das trabalhadoras, e quais ações conjuntas poderíamos estimular no futuro? 

Cindy Estrada – Nossa indústria automobilística é global, então temos em comum o problema do assédio sexual e da incompreensão entre os sexos sobre os problemas e as soluções para fazermos de nossos locais de trabalho centros de igualdade, equidade e solidariedade. As redes sociais também se tornaram uma maneira importante das pessoas compartilharem suas histórias, e de se engajar mais pessoas na questão do assédio sexual nos locais de trabalho e sindicatos dominados por homens. Uma maneira importante de trabalharmos juntos é por meio da comissão de mulheres da IndustriALL. Exercendo pressão juntos na IndustriALL e em nossos sindicatos individuais, podemos fazer ainda mais para tornar nossos países e nosso mundo mais seguros e mais amorosos para todas as meninas, meninos, mulheres e homens.

Depoimentos

Pat Ruffin, Trabalhadora Nissan, Canton Mississippi

Pat Ruffin, Trabalhadora Nissan, Canton Mississippi – EUA

Na ocasião do 50º aniversário do assassinato de Martin Luther King no domingo, dia 4 de março, cidadãos do mundo inteiro realizaram uma marcha em Selma, Alabama, para reivindicar aos congressistas o restabelecimento da Lei dos Direitos de Voto, a aprovação de um salário digno e a preservação de programas de assistência social, fundamentais para os mais pobres e mulheres.  Muitos se postaram no topo da histórica ponte e se comprometeram a lutar pelo direito ao voto, à igualdade de gênero, à saúde e a um salário digno para todos.

Betty Jones,Trabalhadora Nissan, Canton Mississippi – EUA

Os Estados Unidos têm um histórico conturbado de supressão dos eleitores, incluindo as mulheres. Antes da aprovação da Lei dos Direitos de Voto de 1965, muitos estados faziam uso de políticas como impostos de votação e testes de alfabetização para impedir que afro-americanos e mulheres votassem. Mesmo que as barreiras ao voto da era Jim Crow tenham sido removidas há mais de 50 anos, alguns parlamentares continuam defendendo políticas que prejudicam o progresso da nossa nação e nossa empresa (a Nissan), e que interferiram com a possibilidade de uma escolha verdadeiramente livre pelos meus colegas de trabalho sobre a sindicalização da nossa planta de Canton. [fonte: CNTM]

 

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #18