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Everaldo dos Santos.
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Consciência Negra: entre resistência, memória e projeto de futuro

Por Everaldo dos Santos. - Diretor do Sindicato e Ativista 20 nov 2025

A Consciência Negra não é apenas uma data no calendário; é um chamado político e histórico para reconhecer, enfrentar e transformar as estruturas de desigualdade racial que ainda moldam a sociedade brasileira. É o momento de reafirmar que a luta do povo negro não começou com a escravidão e tampouco termina com a assinatura de leis simbólicas. A Consciência Negra é, sobretudo, um exercício contínuo de protagonismo, de reivindicação de direitos e de construção coletiva de novas possibilidades.

No Brasil, onde mais da metade da população se autodeclara negra, ainda persiste um abismo profundo entre o discurso de igualdade e a realidade vivida. As estatísticas evidenciam a herança colonial: negros são maioria entre os que têm menos acesso à educação de qualidade, aos espaços de poder e oportunidades econômicas; ao mesmo tempo, são os que mais sofrem violência policial, desemprego, encarceramento e invisibilidade institucional. A Consciência Negra emerge, portanto, como contraponto à narrativa que tenta naturalizar essas desigualdades.

Politicamente, celebrar a Consciência Negra significa reconhecer a importância das lideranças, movimentos sociais e intelectuais negros que, há séculos, constroem estratégias de resistência — desde Zumbi dos Palmares e Dandara até os movimentos contemporâneos que reivindicam políticas de ação afirmativa, representatividade e reparação histórica. É também reafirmar que democracia racial não é um estado de coisas, mas uma meta a ser alcançada por meio de políticas efetivas e de uma mudança cultural profunda.

No campo étnico-racial, a Consciência Negra reforça a necessidade de valorizar a ancestralidade africana que moldou a língua, a arte, a culinária, a espiritualidade e a identidade nacional. Reconhecer esse legado é romper com séculos de apagamento e construir uma sociedade que não apenas tolera, mas celebra a diversidade como fundamento de sua própria existência.

Por isso, o 20 de Novembro — Dia da Consciência Negra — é um convite a uma reflexão que vai além do simbólico. Ele nos chama a revisitar nossa história, denunciar o racismo estrutural, fortalecer políticas públicas e, principalmente, imaginar e construir um Brasil onde vidas negras sejam verdadeiramente valorizadas. Uma sociedade onde a consciência não seja apenas lembrada, mas praticada todos os dias.

A Consciência Negra é, afinal, a memória de um povo, a denúncia de um sistema injusto e o anúncio de um futuro possível.

Jornal Visão Trabalhista EDIÇÃO #24